Em zonas de elevada disponibilidade de alimento e com Inverno ameno, os
nascimentos podem ocorrer mais cedo. No caso de se fornecer alimentação
artificial, os nascimentos podem começar em Dezembro e durar até Junho
(havendo alguns registos de nascimentos entre Novembro e Março).
É omnívoro, sendo a sua lista de alimentos grande e diversa. Os alimentos de origem
vegetal são a base da sua dieta, que pode ser composta por plantas (ou parte delas),
frutos (como a castanha, as bolotas e azeitonas), insectos, moluscos, pequenos
mamíferos, aves (ovos) e, por vezes, carne em decomposição. A componente animal
é sempre menor que a vegetal, e complementa esta, pois é rica em proteínas.
No geral, o javali come o que estiver mais disponível, tendo no entanto preferência por
alimentos ricos, como os frutos e algumas plantas agrícolas. A sua alimentação
varia de local para local, e durante o tempo. Esta variação parece ser o reflexo de
diferentes disponibilidades de alimento.
Em resumo podemos dizer que em resposta às variações espaciais e temporais na
variabilidade e abundância de alimento, o javali come aquilo que o meio lhe
oferecer, empreendendo por vezes grandes deslocações (que podem chegar aos
250 Km) para encontrar o alimento que deseja, e aqui reside talvez uma das
principais razões para o sucesso desta espécie.
Por se alimentar de plantas agrícolas, é responsável por danos avultados na produção
agrícola. Contudo, uma boa parte dos estragos são resultado do atropelamento e
destruição quando se desloca e quando desenterra as plantas para se alimentar das
raízes. Os estragos atingem maior dimensão na Primavera e Outono, e são ainda
maiores quando existe menor quantidade de frutos silvestres.
Assim, a disponibilidade de alimento é um dos factores chave para a dinâmica
populacional do javali e para o sucesso reprodutivo.
A importância da alimentação advém do facto desta ser essencial para a
manutenção do bom estado físico dos animais. Este pode ser avaliado pelo
Índice de Condição (IC) e/ou pelo Índice de Gordura Renal (IGR).
O IC dá-nos uma relação entre o peso e o comprimento do animal, e foi definido tendo
em conta o facto das variações de peso estarem relacionadas com o estado
nutricional, permitindo desta forma avaliar a condição física do indivíduo. O IGR
quantifica as reservas energéticas acumuladas (método bastante usado para os
cervídeos).
Em relação à variação do IC ao longo do ano, podemos dizer que, de uma forma geral,
ele diminui, tanto nos machos como nas fêmeas, do Inverno até ao Verão (altura
em que são verificados os valores mínimos) começando a aumentar outra vez no
Outono. Assim, os javalis apresentam melhor estado físico na no início da altura
reprodutora (acasalamentos) e na altura dos nascimentos.
Vários estudos na Europa sobre preferências alimentares e sobre os danos na
agricultura, apontam para uma preferência pelo milho (Zea mays), sendo também a
cultura em que se verificam os maiores prejuízos. Os estragos assumem também
proporções consideráveis em vinhas (embora neste caso fruto de destruição enquanto
procura por raízes e rebentos tenros) e nos cereais. Em pastagens, onde o
javali procura invertebrados, revolvendo a terra, foçando, deixando marcas bem
características, os estragos são de maiores dimensões em zonas de pastagens
melhoradas, mais comuns no Norte e Centro da Europa, do que em regiões de
pastagens naturais, como é o caso Mediterrânico). Há também registos de danos em
arrozais.
Estes estudos sugerem ainda que a disponibilização de suplemento alimentar,
provoca desequilíbrios na alimentação dos javalis, pois normalmente são fornecido
alimentos ricos em energia, a que os danos nas culturas agrícolas sejam maiores, pois
os javalis vão procurar com maior insistência alimentos ricos em proteínas
nestas áreas (normalmente em pastagens).
Por forma a evitar danos, podem ser usadas redes eléctricas, avisos odoríferos,
sonoros ou visuais, e obstáculos físicos.
O javali pode também constituir uma ameaça para alguns vertebrados, principalmente
para as aves que fazem ninho no solo (quer por destruição de ninhos, consumo de
ovos ou juvenis) e mesmo em alguns roedores. Na bibliografia disponível sobre o
assunto são relatados os casos da galinhola (Scopolax rusticola), do faisão
(Phasianus colchichus) e do coelho (Oryctolagus cuniculus) (em França), e na
Península Ibérica a perdiz (Alectoris rufa), a lebre (Lepus capensis) e o coelho.
Este efeito será tanto maior quanto maior a densidade de javali.
Existem também alguns registos de mortes de animais domésticos (embora
com pouca expressão). A relação entre esta espécie e o Homem nunca foi pacífica, e
o problema do cruzamento com porcos domésticos, a transmissão de doenças aos
animais domésticos e os estragos na agricultura têm contribuído para que as queixas
contra este animal aumentem.
As densidades de javali são normalmente da ordem dos 10 animais por 100 hectares.
A sua área de acção (não é um território no sentido normal, pois não existem
marcações) pode variar entre os 4 e os 22 Km2, e em zonas de caça pode chegar aos
26 Km2. Apesar de não demarcarem um território, parecem ter preferência por certos
locais de dormida (descanso ou reprodução) que mantém ao longo de vários anos.
A proporção de machos e fêmeas é de cerca de 0,8 – 1:1, pois há uma tendência para
existirem mais fêmeas que machos, pois este têm uma mortalidade elevada até aos 4
anos de idade, devido à maior competição entre machos adultos e os mais jovens
(estes são expulsos assim que atingem a maturidade e podem mesmo ser mortos) e
à dispersão destes em busca de novos territórios.
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